Resenha- Demônios não choram- Samuel Cardeal

By Paloma Viricio - novembro 12, 2013

O mundo em que conhecemos experimenta fases de inúmeras transições com as realidades paralelas que a percebem utilmente. Vivemos em um planeta próspero, onde as riquezas – econômicas e naturais conquistadas pela humanidade, através dos tempos – são distribuídas conforme a necessidade de seus constituintes. Experimentamos todos os momentos de crescimento e desenvolvimento de processos, mesmo que uma parcela considerável seja excluída disso, mas eles também fazem parte desses acontecimentos. A princípio, qual a motivação do falatório social e filosoficamente atribuído na resenha? Simples. Direto. Objetivo. Esse mundo imenso e tão suficiente entrará em conflito e em colapso total – o consumo desenfreado, progresso tecnológico e inconsciência humana serão vistos como agentes aniquiladores e pioneiros de uma Terceira Guerra Mundial.


O resultado dos conflitos diretos e sangrentos obviamente é o desaparecimento da população e a condição de destruição da Terra. O novo mundo – que acontece em 2148 – criado por Samuel Cardeal em seu livro de estréia Demônios não choram é digno de ser citado; construído com uma qualidade imaginária incrível, a fragilidade das poucas reservas humanas e naturais que restaram não foram suficientemente fortes para deter a ameaça dos seres das trevas, que passam a povoar e manipular os comportamentos. De certo modo, a presença dessas entidades é um argumento necessário e convincente para criar e espalhar, através do tempo, o medo, tensão e primitiva necessidade de segurança entre os sobreviventes. Visto sob a perspectiva do autor, os esconderijos secretos e, em grande maioria, imundos e desorganizados parece ser a sacada perfeita para despistar e bloquear o acesso do mal. E funciona, principalmente enquanto a história vai ganhando forma e contexto.

Para balancear essa equação de destruição, surge Ezequiel – um homem que tem a missão de exorcizar e dizimar demônios que afetam a normalidade e o sossego existente após esses eventos. Com uma personalidade destaca, o leitor é evidentemente forçado a colocar todas as suas expectativas de salvação em suas mãos e torce para que, em cada peregrinação contra os seres malignos, Ezequiel seja sempre bem sucedido. Torcemos para que Ezequiel, em todas as suas habilidades e armas impressionantes, desarme cada um dos inimigos e restaure a tranqüilidade dos dias. E à medida que os confrontos vão se destacando ao longo dos enredos, há um sentimento de que somos mergulhados nesse mesmo cenário – como um expectador que vibra, fica surpreso e sente-se a favor dele.

A construção dos personagens é bem caracterizada, os flashbacks para apresentar um pouco sobre o passado controverso, a ausência da figura familiar, o autodidatismo e o treinamento são bem empregados e, como não poderia ser muito diferente, a pesquisa histórica demonstra a preocupação do autor em revelar fatos convincentes. A linguagem e os recursos de texto caminham conforme os acontecimentos vão se sucedendo. A sua compreensão é bastante acessível, cria tensão e salta aos olhos do leitor, especialmente em momentos em que é iminente o início de uma batalha entre o herói da humanidade e os seres sombrios.  

No final das contas, Samuel Cardeal entrega um livro complexo, cinematográfico e com um ótimo ritmo. Sem sombra de dúvidas, é um romance que está muito acima da média do gênero e acrescenta elementos novos que fazem com que a sua leitura seja ao mesmo tempo surpreendente e indicada.  
Contato do autor: Site.
Resenha feita por:
Cláudio Quirino, pernambucano e escritor. Minha vida literária gira em torno dos projetos com as quais geralmente estou envolvido, como organizador de antologias e coletâneas e dos meus romances. Como amar em uma semana é seu primeiro romance publicado.
 

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