Resenha- Ensaio Sobre a Cegueira- José Saramago

By Paloma Viricio - julho 02, 2014

Saramago,José, 1922-2010. Ensaio sobre a Cegueira: romance/José Saramago. - São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas. O "Ensaio sobre a cegueira" é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti. Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos". *Cortesia: Editora Companhia das Letras.



Ficha Técnica
Capa:Hélio de Almeida
Páginas:312
Formato:14.00 x 21.00 cm
Peso:0.38800 kg
Acabamento:Brochura
Lançamento:25/10/1995
ISBN:9788571644953
Selo:Companhia das Letras
Compra: AQUI. 


Notas 
Capa: 01/10
Conteúdo:03/10
Diagramação:01/10
Conceito Geral:10/100 


 Mundo de Cegos
Por Paloma Viricio
Visão Geral
Chegara mesmo ao ponto de pensar que a escuridão em que os cegos viviam não era, senão a simples ausência da luz, que o que chamamos cegueira era algo que se limitava a cobrir a aparência dos seres e das coisas, deixando-os intactos por três do seu véu negro”, p.15. Ensaio sobre a cegueira é uma distopia que conta a historia de pessoas que foram infectadas com uma espécie de cegueira branca. Quando um homem ao volante fica cego a confusão começa... a partir daí várias outras pessoas passam a ter o mesmo sintoma e a vida de todos torna-se um caos. Como será que essa espécie de epidemia se alastrou entre os humanos? De onde veio esse tipo de cegueira? Qual será a reação da população para resolver exterminar esse mal?

Todos temos os nossos momentos de fraqueza, ainda o que nos vale é sermos capazes de chorar, o choro muitas vezes é uma salvação, há ocasiões em que morreríamos se não chorássemos”,p.101. Grande verdade! Tanto que senti vontade de chorar demasiadamente logo nas primeiras páginas desse livro (diagramação horrível) e também no final, porque me senti traída pelo autor. Várias vezes pensei em abandonar a leitura, mas persisti como boa leitora que sou e continuava. Está certo que nessa brincadeira eu levei seis meses, mas está valendo, já que finalmente consegui terminar. Pensava que seria apenas um começo lento, se parasse poderia estar perdendo um grande final, mas foi apenas uma utopia...infelizmente. Disse que me senti traída, justamente porque acreditava que poderia me surpreender de alguma forma (pelo menos com o final) e isso não aconteceu...chorei, chorei!

Ensaio sobre a cegueira é uma obra massacrante, um livro que desgasta o leitor sem dó nem piedade. A história parece um grande conto. A maior parte acontece em apenas um local, o leitor e personagens nadam, nadam, ora se afogam, ora morrem na praia. Chega um momento que a rotina daquele bando de cegos se torna cansativa, eles choravam e eu chorava junto...de tristeza por estar perdendo meu precioso tempo com o livro de Saramago. Não gostei! Está certo que nem tudo está explicadinho sempre, devemos ver as mensagens nas entrelinhas, mas foi demais. Entendi que o livro busca mostrar como a sociedade está caminhando para uma linha sem volta, sem compaixão, solidariedade e respeito ao próprio. Entendi que o ser humano pode ser considerado mesmo a pior raça do planeta porque é egocêntrico, não pensa duas vezes antes de passar a perna em alguém e que não passam de animais mesmo tendo inteligência e raciocínio... mas e daí? Faltou muito, faltou o grande final, a grande sacada... pelo menos uma explicação melhor sobre tudo que acontecia. José Saramago, você mostrou-se mais egoísta que seus próprios personagens carniceiros... vontade de voar no seu pescoço! (Impossível, eu sei)

Eu gostei da descrição do autor, bem realista...os personagens eram sempre bem humanos com mais defeitos que qualidades. Gostei de todo o enredo, das sacadas poéticas e reflexivas. Porém, ficou devendo muito! Cadê o grande final? Onde estão explicações? Desfecho preguiçoso. Ele me prendeu? Em algumas partes, sim... só que eu fiquei esperando mais, muito mais e não tive. Me decepcionei com o livro, ainda mais por ser obra de um autor tão aclamado que ganhou o prêmio Nobel de Literatura. Pode parecer bobeira, mas me senti péssima quando terminei, nunca aconteceu isso antes. Foi algo horrível, pior do que a cegueira branca narrada e martelada na trama. Sensação indescritível, de vazio...solidão e tempo gasto. Algum dia espero poder ler outra obra do autor, gostar, já que essa nem de perto entrou para o time das favoritas. Comecei assistir o filme inspirado no livro (para fazer uma resenha dupla), mas na metade parei... muito chato, mais do que a brochura, sem condições! “A noite estava fria, o vento soprava ao longo da fachada do edifício, parecia impossível que ainda houvesse vento no mundo, que fosse negra a noite, não o dizia por si, pensava, sim, nos cegos para quem o dia durava sempre”,p.154.

Design e diagramação



Mais um ponto o qual tenho que reclamar nesse livro. Primeiro que a capa é horrível...sem um pingo de criatividade! Pela história dava para montar algo bem legal, mas preferiram colocar uma imagem abstrata que como o livro não diz nada.O miolo é impresso em papel polen, mas não ameniza a péssima diagramação que ele possui. As letras são pequenas, grudadas...não tem espaço direito entre uma frase e outra e muito menos entre os parágrafos, parece que esqueceram o espaçamento do livro... só misericórdia divina, viu? Outra questão é que os diálogos introduzidos na narração não estão separados por travessões ou aspas, eles fazem parte do texto narrado pelo autor como um grude incômodo que alguém teve preguiça de tirar. Traduzindo? Me irritei demasiadamente porque o livro parece um grande bloco de texto, tudo junto, mais misturado que micareteiro no carnaval da Bahia. Horrível!

Sobre o autor

Nasceu em 1922, de uma família de camponeses da província do Ribatejo, em Portugal. Devido a dificuldades econômicas foi obrigado a interromper os estudos secundários, tendo a partir de então exercido diversas atividades profissionais: serralheiro mecânico, desenhista, funcionário público, editor, jornalista, entre outras. Seu primeiro livro foi publicado em 1947. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente da literatura, primeiro como tradutor, depois como autor. Romancista, teatrólogo e poeta, em 1998 tornou-se o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura. Saramago faleceu em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, em 2010. A Fundação José Saramago mantém um site sobre o autor www.josesaramago.org. Fonte: Editora Companhia das Letras.


Licença Creative Commons
O trabalho Mundo de Cegos de Paloma Viricio foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Brasil.

Obs.: Todos os textos produzidos neste blog são da minha autoria e estão registrados. Se utilizá-los, por favor lembre-se dos créditos.  


  • Share:

You Might Also Like

16 comments