Frombelle, Timothée  de. Vango: Entre o céu e a terra / Timothée de Frombelle; [tradução Maria Alice Sampaio Dória]. São Paulo: Editora Melhoramentos,  2015.

Salvar a pele e, ao mesmo tempo, descobrir a própria identidade: esses são os grandes desafios de Vango. Ao ler esse thriller histórico, ambientado no conturbado período entre as duas grandes guerras mundiais, somos impelidos a fugir com esse rapaz órfão de 19 anos que desconhece sua origem e tenta entender por que a polícia e um franco-atirador estão em seu encalço. A narrativa começa na solenidade em que Vango e outros seminaristas seriam ordenados padres na Catedral de Notre-Dame, em Paris. O assassinato do padre Jean, seu protetor, desencadeia a perseguição ao rapaz, suspeito do crime, que empreende uma fuga espetacular ao escalar nada menos do que os famosos vitrais da catedral. Essa cena é apenas um exemplo da aventura de que é feita toda a saga, em que acompanharemos nosso protagonista em situações e lugares improváveis – pulando de um trem em movimento, escondido na copa das árvores num bosque da Escócia ou dependurado num zepelim sobre um vulcão.

Classificação:

Nota geral: 95/100

O mistério de Vango

Por Paloma Viricio

Visão Geral

“Esses espetáculo se misturava com as notas da música do gramafone. Eckener ficou na porta do salão. Estava impressionado com o contraste entre a perfeição daquele momento e angústia que o atormentava desde a manhã. Sabia muito bem que iam descobrir Vango e não tinha como avisar o clandestino sobre o que o esperava”, p. 113. Um menino misterioso. Até para ele mesmo. Vango não sabe sua origem. O passado é como um borrão que ele não faz ideia de como consertar. Sem ter saída,Vango, passa a dançar pela vida uma valsa silenciosa.

Vango é um jovem misterioso que pula de telhado em telhado com perfeição. Mas a idade não o impediu de ser acusado por um crime que não cometeu. A partir dai o rapaz passa a ser caçado. Como um gato, Vango, não deixa rastros. Os caçadores passam por bons bocados para descobrir sequer uma pista sobre o menino e o passado nebuloso que ele possui.“Ethel não poderia dizer mais nada  além dessas pequenas coisas porque, com Vango, em apenas algumas semanas, ela só  vivera o presente. No dia em que, de repente, havia refletido sobre o passado e principalmente sobre o futuro já era tarde demais”, p. 151.

A narrativa do autor é sensacional e fez meu coração palpitar de encanto. As personagens são tão originais e misteriosas que estimulam o leitor a querer saber mais sobre elas. Por isso, nenhuma personagem desagrada, até mesmo os vilões embalam o leitor porque cumprem com perfeição o papel que lhes foi atribuído. Na verdade, em Vango, ninguém é totalmente mocinho ou vilão e todos guardam determinado grau de segredo. Essa é uma das principais características que dão um gás na trama. Fombelle consegue entrelaçar ficção com realidade de forma ímpar. O cunho histórico que esse livro possui é algo demasiadamente valioso. “Naquela noite, ainda não ousou confessar a si mesma que aquela pista, com seu violino e cabelos em desordem, com seus olhos tristes e seu belo rosto vindo do frio, fazia também seu coração bater na velocidade de um pequeno cavalo em disparada na planície”, p. 165.

Mas como nem tudo é perfeito, houve um fator que me incomodou bastante. Em alguns momentos a ordem cronológica do livro me confundiu. O tempo ás vezes me deixava com a mente embaralhada o que fazia eu me perder por um período até me encontrar em outro. Passado e presente se cruzam a todo momento. Determinada hora uma personagem estava em tal lugar, depois se encontrava em outro. Essas mudanças aconteciam de forma brusca. Tanto que ás vezes me sentia em uma batida de carro. Sabe quando você não está esperando e sofre aquele baque? Me chateou #ChoreiLargado. “Algumas noites, perdido entre os desejos e os medos, ele ia para o alto das falésias, atrás do mosteiro, e de lá mergulhava no mar. Vango não tinha mais medo do mar. Jogava-se como um pássaro. Saía da água com a pele esbranquiçada pelo luar”, p. 198. Entretanto, Vango, é um thriller sensacional muito bem elaborado e que vale ser lido por pessoas de qualquer faixa etária. 

Design e diagramação

A capa é bem bonita e possui um ar bastante retrô. O livro é largo e espaçoso. As letras apresentam-se em tamanhos confortáveis assim como o espaçamento. A cor da fonte é bordô o que deu todo um diferencial. O miolo foi impresso em papel pólen. O livro ainda conta com uma gama de fotografias, gráficos e ilustrações sensacionais que ajudam a entender melhor a trama. 

Sobre o autor

Escrevia principalmente peças de teatro. Depois de uma premiada carreira como dramaturgo, teve sua estreia na literatura em 2006, com Tobie Lolness. O livro foi traduzido para mais de 22 línguas e fez o autor transformar a literatura para jovens adultos na sua principal ocupação profissional. Vango: Entre o céu e a terra é a primeira parte do novo romance do escritor(dividido em dois volumes). 

O trabalho O mistério de Vango de Paloma Viricio foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Brasil.

Obs.: Todos os textos produzidos neste blog são da minha autoria e estão registrados. Se utilizá-los, por favor lembre-se dos créditos.  

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