Resenha- A neta da Maharani- Maha Akhtar

By Paloma Viricio - agosto 15, 2016

Akhtar, Maha. A neta da Maharani/ Maha Akhar; tradução Lizandra Magon de Almeida- São Paulo: Primavera Editorial, 2009.
Em três gerações e um século completo, o livro traz a história de quatro mulheres admiráveis marcadas por amores secretos.
A neta da Maharani é um romance de memórias que retrata amor, esperança e choque cultural. Relato da saga de Maha Akthtar em busca de sua verdadeira origem, a obra é um resgate de experiências que o tempo tentou apagar. Em três gerações, o livro traz a história de quatro mulheres marcadas por amores secretos - Anita Delgado, uma bailaora espanhola que aos 17 anos se casou com o marajá de Kapurthala, na Índia; Laila, uma mulher libanesa independente e à frente de seu tempo; Zahra que cometeu o erro de se apaixonar por Ajit, filho de Anita Delgado e do marajá; e Maha que busca a verdadeira identidade em viagem que começa em Nova York, passa pela Europa e chega à Índia.

Classificação:

Ficha Técnica
ISBN-10: 8561977094
Ano: 2009
Páginas: 363
Idioma: português
Editora: Primavera Editorial
Onde comprar? Primavera Editorial

Notas
Capa: 10/10
Conteúdo: 10/10
Diagramação: 10/10
Conceito Geral: 100/100
O amor da Maharani
Por Paloma Viricio
Visão Geral                            
Anita Delgado saltou de uma vida simples, repleta de privações para outra totalmente luxuosa ao lado do marido, marajá de Kapurthala, na Índia. Dessa união houve um fruto, Ajit, que ocasionalmente conheceu a libanesa Zahra e mudou completamente  a história dessa mulher e sua filha... Maha Akhtar. “Tinha a impressão de que conseguira tudo o que uma jovem poderia desejar: o amor do marido, o marajá; uma vida opulenta quase dissoluta; uma vida social que a mantinha ocupada e da qual era o centro das atenções, sem mencionar as viagens, as caçadas, roupas e jóias que seriam parte integrante de sua nova vida como aristocrata indiana”, p. 82.

A neta da Maharani é um romance sólido, muito bem escrito, que engloba diversos relacionamentos banhados por amores secretos e impossíveis. O mais incrível é saber que todas essas histórias realmente aconteceram. Uma realidade que surpreende pela grande semelhança com a ficção. Maha conseguiu envolver, pesquisar, eternizando a vida das mulheres de fibra da família dela. Apesar de contar a história de Anita Delgado e do Marajá da Índia, A neta da Maharani, é um livro que disseca como um todo o antepassado da avó materna e mãe da autora. Felizmente torna-se um excelente mix cultural. O leitor pode viajar pela Índia, Líbano, Paquistão, Espanha e etc. É fato que faltaram algumas informações sobre a vida da Maharani. Além disso, sua trajetória foi apenas pincelada. Quem quiser conhecer á fundo sobre a mesma, pode ler outro livro chamado Paixão Índia, que traz maiores informações sobre toda a trajetória de Anita Delgado e a avassaladora paixão com o Marajá. Outro ponto positivo que vale destacar são as diversas palavras que podemos aprender durante a leitura. O vocabulário é apresentado através de pequenas notas com palavras em Hindi, Urdu, idiomas típicos da Índia e Paquistão.

Sinceramente, confesso, que não está sendo fácil escrever essa resenha. O livro mexeu bastante comigo. O leitor é bombardeado por uma dose forte de realidade vivida pelas mulheres de antigamente e ainda presenciada por muitas famílias tradicionais nos tempos atuais. “Sei que é difícil para você entender os casamentos arranjados, mas são parte da cultura do Oriente Próximo. O meu foi assim e com o tempo passei a amar muito Farhan”, p.259. Tantas figuras femininas ainda continuam sendo vistas como o “sexo frágil” no oriente e remetidas á diversas condições obrigatórias em prol da honra da família. Não basta ir muito longe para presenciar isso. Quem acompanha a novela turca Sila-Prisioneira do amor, apresentada pela rede bandeirantes, consegue presenciar como as regras da tradição ainda falam mais alto do que a vida de uma pessoa, por exemplo. Aliás, pode não parecer, mas essa trama televisiva é uma chicotada na cultura tradicionalista da Turquia. E não é somente lá que acontecem situações sufocantes. No Afeganistão ainda é comum que famílias pobres vendam suas filhas para velhotes enriquecidos em troca, muitas vezes, de poucos trocados. Eu te pergunto: Para você quanto vale uma vida? Para alguns tenho certeza que muito, mas para outros quase nada. É o egocentrismo humano e arcaico que ainda mostra força nos dias de hoje. Minhas intenções passam longe de julgar alguma cultura, mas não posso deixar de atentar que qualquer tipo de ser humano merece no mínimo respeito e dignidade pelo direito à vida.

Essa situação é séria. A cada dia estatísticas aumentam, não sendo somente assunto de ficção. Tenho um amigo paquistanês, converso com ele e as irmãs há mais de três anos. São jovens, cheios de vida,com perspectivas de um futuro melhor do que aquele vivido pelos pais. Tanta foi a surpresa quando um dia ao efetuar uma chamada de vídeo com ele, o encontrei extremamente abalado com lágrimas nos olhos.

-O que houve? – Perguntei.
-Uma tragédia, Bae (apelido que ele me chama s2).
Logo meu coração disparou...
-Meu Deus, o que houve Muhammed?
-A Ishia morreu.- respondeu se referindo à uma das irmãs.
-Oh, eu sinto muito- disse com lágrima nos olhos- Não sei o que dizer, só queria estar ai para lhe dar um abraço.

E infelizmente perdi uma amiga, que mora do outro lado do mundo, mas era quem eu conversava sobre filmes, músicas indianas e paquistanesas. E quem eu ajudava a dar uns puxões de orelha em Muhammed de vez em quando. Não foi nenhum ataque de bomba que a matou, nem mesmo uma doença. Ishia se suicidou porque o pai havia resolvido casá-la com um homem que ela nem ao menos conhecia. Os casamentos arranjados. Eu sabia que ela não iria resistir uma vida assim. Ishia era uma menina diferente. Que estava louca para entrar na faculdade, conhecer novos países e se apaixonar. O que mais dói é saber que ainda existem milhões de Ishas por ai. “Ás vezes a vida nos põe diante de encruzilhadas e nos oferece caminhos distintos. Você pode escolher um ou outro, mas o destino tem uma maneira estranha de se manifestar, sempre nos devolve a trilha em que devemos estar, a trilha que escolheu para nós”, p. 246.

A neta da Maharani é um romance apaixonante. Maha tornou-se uma de minhas autoras preferidas. A sensibilidade como ela costura as palavras, o amor pela dança e a atitude por ter corrido atrás das suas verdadeiras origens é algo que deve-se admirar. Simplesmente sensacional!! “Mas a quarenta quilômetros dali, Beirute estava ardendo. Conseguiu ver um brilho das chamas que se elevavam no céu. Tudo desapareceu: minha terra, meu país, minhas filhas, meu amor... varridos pela maré do tempo”, p. 255.

Design e diagramação





A capa desse livro é linda. A reedição ficou maravilhosa, rica em detalhes sem perder o bom gosto. Eu adoro capas azuis, essa com detalhes do ouro da pulseira da mulher é super ‘Índia’. O miolo é impresso em papel pólen. Apresenta letras e espaçamentos confortáveis para a leitura. Entre a leitura, somos presenteados com marcas d’água bastante delicadas de renda indiana. No começo encontramos uma árvore genealógica da família de Maha, mostrando a descendência tanto da parte materna (Líbano) como da paterna (Índia). Para finalizar temos acesso a um álbum de fotografias de Maha, Zahra , Laila, Anita delgado ... as mulheres de fibra da família de Akhtar.

Sobre a autora

MAHA AKHTAR é colaboradora de Departures, uma das publicações de maior destaque do American Express Publishing Group of Magazines. Ela foi assistente da The Cure, banda reconhecida mundialmente como uma das mais influentes do rock alternativo moderno, e trabalhou para o canal de notícias CBS, sendo nomeada diretora da CBS Communications em 1995. Maha é uma pessoa internacional, pois divide o tempo entre Nova York, Sevilha e Nova Délhi. Fala fluentemente seis idiomas e é uma notável dançarina profissional de flamenco.

Veja também:
Carta para Maha Akhtar
Licença Creative Commons
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Obs.: Todos os textos produzidos neste blog são da minha autoria e estão registrados. Se utilizá-los, por favor lembre-se dos créditos.  

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