Por Paloma Viricio
Passei
minha vida inteira atrás de um único objetivo: me esconder. Quando as visitas
chegavam em casa, minha mãe passava vergonha e eu não me arrependia nenhum
momento de fazê-la sentir isso.
-Isabella, desça aqui querida! Sua tia e seus primos chegaram.
Eu respondia com um baque forte, surdo. Resultado da porta de
madeira do meu quarto sendo fechada bruscamente. Pulava na cama embalada por um
aspecto tedioso causado pelas queixas da minha mãe no andar de baixo. O jeito
era deitar, colocar os fones de ouvido e permanecer trancada no meu próprio mundo
até que as visitas fossem embora.
Nem sempre fui assim. Antes era uma menina alegre que gostava de
brincar com outras crianças, ir ao colégio e participar de eventos da família
(não que eu seja triste agora, só não gosto de socializar). Mas depois que
entrei na adolescência isso tudo passou a ser tão irracional e sofrido.
O
convívio com outras pessoas era, senão, uma tortura para mim. Os olhos dos
meninos em meus seios, que cresciam descontroladamente, era o impulso para eu
querer acertar à todos com um belo murro. E não era só isso. Parecia que todo
tipo de conversa me causava irritação. As mulheres da família falavam sobre
filhos, supermercado, doenças. Os homens sobre jogos de futebol, carros e
mulheres que eles já não podiam mais ter.
Eu não gostava das pessoas. Não me importava com a companhia
delas.
Minha mãe falava que eu estava doente e precisava me tratar, mas
eu achava que quem precisava de tratamento era ela. Não era eu quem ficava
limpando toda a casa de meia em meia hora.
Às
vezes as pessoas não conseguem (ou não querem) enxergar os próprios defeitos,
por consequência, ficam apontando os dos outros. Isso deve ser efeito de algum
sistema paradoxal para se sentir melhor, que sinceramente, não funciona comigo.
No
fundo da classe, atrás das páginas de algum livro, no intervalo em um canto
reservado do pátio e após esse horário seguia para a biblioteca onde os raios
de sol não podiam queimar minha pele e o cheiro de mofo dos livros me faziam
sentir um agradável conforto particular.
E foi
naquele lugar, escondida, que acabei o encontrando. Na seção dos dramas, guiado
por um óculos de grau com pernas remendadas. Te observando percebi que também
gostava de se esconder. O tempo foi passando. Você também me encontrou. Em meio
a tantas histórias, passamos a nos esconder juntos, tornando-se cúmplices
antissociais.
Você
também sentia asco das visitas, conversas de família, das aulas de matemática e
sua mãe era idêntica a minha na questão do “se tratar”. Mas nós sabíamos que
éramos normais. Pelo menos do nosso jeito. Fomos se escondendo, nos encontrando
e acima de tudo sendo nós mesmos. Sempre. E sabe, agora, eu até que gosto das
pessoas, mas gosto principalmente de você.
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