Almeida, Djaimilia Pereira de. Esse cabelo: a tragicomédia de um cabelo crespo que cruz fronteiras/ Djaimilia Pereira de Almeida. – Rio de Janeiro: Leya, 2017.
Além de contar a inusitada história de um cabelo crespo, este livro fala também de racismo, feminismo e identidade. A novíssima estrela da literatura portuguesa chama-se Djaimilia Pereira de Almeida — e é angolana. José Eduardo Agualusa Um romance surpreendente que mistura memória, imaginação e crítica social com humor e leveza na medida certa, mas que também discute temas atuais e fundamentais como racismo, feminismo, identidade e pertencimento. Esta é a história de uma menina que chegou em Lisboa, aos três anos de idade, saída de Luanda, na África, e das suas memórias ao longo do tempo – porque não somos sempre iguais aos nossos retratos de infância –, mas é também a história das origens do seu cabelo crespo. Sua autora, Djaimilia Pereira de Almeida, está despontando como uma promessa da literatura contemporânea, e virá ao Brasil para participar da Festa Literária Internacional de Paraty, a FLIP, com grande destaque na imprensa. Falar de cabelos é uma bobagem? Não, até porque, segundo a narradora deste livro, “escrever parece-se com pentear uma cabeleira em descanso”; e visitar salões de beleza é uma boa forma de conhecer hábitos, de aprender a distinguir modos e feições e até de detectar preconceitos. Esse Cabelo narra as aventuras de um cabelo crespo – curto, comprido, amado, odiado, que se embrenha por memórias e histórias num convite ao leitor a desembaraçar todos os nós. Cabelo e escrita, identidade e ação. Da raiz às pontas, estamos assistindo também à narrativa da relação entre vários continentes e a uma geopolítica em constante transformação. O lugar de Djaimilia parece ser sempre movediço, e ela tende a fugir de qualquer nicho, etiqueta ou logotipo. Ronaldo Bressane
Ficha Técnica
ISBN-10: 854410522X
Ano: 2017
Páginas: 144
Idioma: português
Editora: Leya
Notas
Capa: 10/10
Conteúdo: 07/10
Diagramação: 10/10
Conceito Geral: 7,5/100
As aventuras de um cabelo
Por Paloma Viricio
Visão Geral
“Como
para qualquer menina de nove anos, pentear o cabelo da avó Lúcia, com quem
vivia, era uma das minhas ocupações favoritas. O seu cabelo exalava um perfume
da antiguidade que jamais reencontrei(...) Costumo pensar que este cheiro é
tudo o que posso dizer sobre a minha identidade”, p.30. É assim que nossa vida
é constituída. De lembranças, cheiros, pessoas...cabelos. Assim é contada a
história da vida de Mila. De cabelo preso, solto, Black, marrado, cacheado,
trançado, embalado no lenço... mil e uma maneiras de dizer que devemos ser do
nosso jeito ultrapassando fronteiras e barreiras.
Nunca
esquecerei uma aula da faculdade que o professor tentava explicar questões de
identidade do ser. Ele dizia que a cada momento que passa estamos constituindo
um novo modo para nosso ser. Portanto, aquela pessoa que representa você no
documento do RG, no dia seguinte já não pode mais ser quem era ontem, é apenas
um simbolismo. Você é você e outros mil a cada segundo que passa, a cada
experiência que adquiri, a cada conversa que vive. Isso me marcou
demasiadamente, ler um pouco da história de Mila, me fez lembrar a cada
momento desse conceito. “O cabelo é a pessoa. O subterfúgio da comédia, o drama
pretensamente tranqüilo, são os adornos”, p.143.
Esse
cabelo é mais do que um romance. Ele fala de cabelo, sim é o gancho de todo, de
identidade, de pessoas. A autora usa de uma simplicidade sem tamanhos para
passar ao leitor que devemos nos aceitar como somos e como queremos ser. Há
pessoas de todos os tipos no mundo. Não seremos capazes de agradar a todos, mas
podemos ficar satisfeitos se pudermos ao menos agradar a nós mesmos. O livro
aborda questões importante como feminismo, preconceito e tantas outras. “O modo
de os outros tratarem o meu cabelo simbolizou sempre a confusão doméstica entre
o afecto e o preconceito, o que vem desculpando a minha falta de jeito para
cuidar dele”, p.47.
A
leitura de Esse cabelo foi bastante proveitosa. O único ponto que negativo foi
adaptar a leitura para a linguagem portuguesa (Português de Portugal). Senti dificuldade em diversos
momentos para entender alguns termos e etc. Isso fez com que a leitura se
prolongasse por um tempo a mais do que seria com um livro em linguagem
brasileira. Entretanto, esse é apenas um ponto. Não um todo. Vejo que tive
momentos muito agradáveis e de grande aprendizado com esse livro. Por isso,
indico ele para todos que desejam conhecer a tragicomédia de um cabelo crespo
que cruza fronteiras. “(...) anunciando na variedade infantil, crianças negras
de cabelos lisos, risonhas, modelos de vidas instantâneos. Publicidade enganosa
perceberia eu no dia seguinte. O tratamento, cuja química abrasiva obrigava ao
uso de luvas, consistia,segundo me explicaram, em ‘abrir o cabelo’, torná-lo
mais maleável”, p.24.
Design e diagramação
A
capa desse livro traduz poder. Eu adorei... ficou muito bonita e indica
exatamente o que a leitura nos proporciona. A combinação da cor alaranjada com
as letras brancas ficou linda. O miolo é impresso em papel pólen, com letras e
espaçamentos confortáveis para a visão. Entre os textos também encontramos
algumas figuras.
Sobre a autora
Djaimilia
Pereira de Almeida nasceu em Luanda em 1982 e cresceu nos arredores de Lisboa.
É doutorada em Teoria da Literatura pela Universidade de Lisboa. Em 2013, foi
uma das vencedoras do prêmio de ensaísmo serrote (Instituto Moreira Salles,
Brasil). No mesmo ano, fundou com Humberto Brito a revista Forma de Vida, que
dirigiram até 2016. Fonte: Site oficial da autora.
O trabalho As aventuras de um cabelo de Paloma Viricio foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Brasil.
Obs.: Todos os textos produzidos neste blog são da minha autoria e estão registrados. Se utilizá-los, por favor lembre-se dos créditos.
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